segunda-feira, 26 de julho de 2010

França (1973): A luta dos trabalhadores da LIP

História da Autogestão

França (1973): A luta dos trabalhadores da LIP


A fábrica de relógios Lip era controlada pela companhia suiça Ébauches S. A. (que movimenta 450 milhões de francos suíços por ano, o que equivale a cerca de 3 milhões e 800 mil contos). Esta companhia decidiu fechar a fábrica, por razões de rentabilidade capitalista, o que acarretaria o desemprego dos seus 1.280 trabalhadores.

Toda a luta dos trabalhadores da Lip teve como objectivo inicial evitar o desemprego. Foi porque os trabalhadores da Lip lutaram eles próprios autonomamente que puderam desenvolver, nessa luta prática, formas de organização que ultrapassaram em muito o objectivo inicial de luta contra o desemprego. Vejamos:

1.ª fase de luta: durante um período de dois meses os trabalhadores organizaram-se unicamente para a diminuição da produção normal.

2.ª fase de luta: como a empresa persistia na posição inicial, sem tomar em atenção as reivindicações dos trabalhadores e sem querer pagar os salários dos grevistas, estes passaram a formas de organização que lhes permitissem sustentar a sua luta: gestão directa e total da empresa pelos próprios trabalhadores, com ocupação permanente das instalações, e apossaram-se do stock de relógios existente na fábrica.

Os trabalhadores, para além dos sindicatos e das filiações partidárias, organizaram-se em Assembleia Geral de fábrica, da qual emanaram 5 comissões, inteiramente responsáveis perante essa Assembleia Geral. As comissões tinham funções específicas: montagem dos relógios, comercialização, gestão da empresa, segurança e relações públicas. Diariamente, em Assembleia Geral de trabalhadores, são apresentados relatórios das comissões e o debate é generalizado a todos os trabalhadores.

Como a venda tinha que ser feita fora do circuito comercial capitalista, que se opunha a vender os relógios produzidos pelos operários da Lip, estes tiveram de organizar por toda a parte, através de uma rede de apoio cada vez maior, a venda dos relógios. Na base deste trabalho e também como sua consequência está o grande número de reuniões de massas por toda a França e outros países europeus e o grande movimento de solidariedade desenvolvido.

Decorridos 2 meses de gestão operária, tinham sido vendidos 60.000 relógios fabricados na globalidade pelos operários e vendidos por eles no valor de 9 milhões de francos (cerca de 50.000 contos). É com este dinheiro, saído directamente da venda do produto do trabalho por eles efectuado, que são pagos os salários de todos os trabalhadores, bem como os subsídios de férias e custeadas todas as despesas da luta.

Após 121 dias de greve, em pleno mês de Agosto, 3.000 polícias ocupam as instalações da Lip. Mais de metade dos trabalhadores franceses estão em férias nessa altura; a Lip estava, à hora em que a policia entrou, apenas ocupada por cerca de 50 operários! Os trabalhadores não se desmobilizaram. Mantêm o «stock» de relógios inicial. De forma rudimentar, criam novas instalações fora da empresa para continuar a montagem dos relógios.

Conseguem mais uma vez uma solidariedade activa dos trabalhadores de França e outros países. Apesar da altura de férias, uma enorme manifestação de apoio com dezenas de milhares de pessoas pôde realizar-se. A luta manteve-se durante 11 meses e os trabalhadores conseguiram enfim que a empresa não fosse desmantelada e que os seus empregos fossem garantidos.

Mas a grande lição da luta dos trabalhadores da Lip parece-nos ser a seguinte: a partir da sua luta prática, souberam desenvolver formas de organização que ultrapassaram em muito os problemas imediatos iniciais. Essas formas de organização e de luta aumentam a consciência e a solidariedade dos trabalhadores e constituem a base sólida para o desenvolvimento da revolução comunista, do combate à sociedade de exploração.


O filme: "Les LIP, L’Imagination au Pouvoir" de Christian Rouaud

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